Yamas e Nyamas
constituem a ética universal do Yoga. Yamas são as indicações de conduta moral recomendadas
para o ser humano em seu convívio social. Nesse primeiro artigo o enfoque é
AHIMSA, a não violência.
Os
Sutras de Patañjáli e os 8 angas : o yoga como caminho para o autoconhecimento
No Yoga
Sutra, um dos textos mais importantes sobre Yoga que se tem conhecimento, seu
autor, o sábio Patañjáli, sistematizou a essência da filosofia do Yoga, em
aproximadamente 150 DC, relacionando 195 aforismos (sutras) que constituem um
verdadeiro mapa do psiquismo humano. Os sutras contém instruções para ajudar o
homem a perceber sua essência e
desenvolver seu potencial. Praticamente
todas as linhas de yoga seguem esse sistema.
Os sutras
são divididos em 4 partes:
1.
Samadhi pada – teoria do conhecimento –
movimentos da consciência – êxtase – a teoria e
técnica do
yoga
2.
Sadhana pada – meios de realização – ética –
ashtanga yoga – exercícios preliminares
3.
Vibhuti pada – poderes psíquicos – práticas
que orientam a meditação
4.
Kaivalya pada – isolamento do espírito, estudo
e práticas para o caminho da libertação
O sistema de Patañjáli é também chamado de Ashtanga
Yoga,
o Yoga de oito partes, descreve as oito subdivisões da técnica yogi. Cada um dos membros depende do anterior, como uma escada, numa
unificação cada vez maior da consciência ou uma purificação progressiva.
O fundamento do Yoga, como de toda espiritualidade autêntica, é uma
ética universal.
1º
ANGA – YAMAS - as restrições – a ética
de conduta moral social
1.
AHIMSA –
não-violência
2.
SATYA –
veracidade
3.
ASTEYA –
não-roubar
4.
BRAHMACHARYA –
castidade
5.
APARIGHARA –
não-cobiçar
1º
ANGA – 1º YAMA - AHIMSA – NÃO VIOLÊNCIA
Ahimsa pratisthayam tat samnidhau Vaira tyagah
Ahimsa é um princípio ético
de não causar nenhum mal a qualquer ser vivente. Está presente nas religiões Hindus, como no Jainismo,
Hinduismo e Budismo. É considerada uma
obrigação a ser cumprida para os praticantes do Hatha Yoga, de acordo com o
texto clássico Hatha Yoga Paradipika (1.1.17), um manual sânscrito escrito no
século XV por Swami Svatmarana, discípulo de Swami Gorakhnath. Esse princípio é
uma orientação contida nesse que é tido
como o mais antigo texto sobre hatha yoga, um dos três clássicos, ao lado do
Gheranda Samhita e Shiva Samhita).
Este princípio se tornou mundialmente
conhecido com um dos grandes nomes da espiritualidade
do século XX, Mahatma Gandhi, líder político Hindu que expulsou o
império britânico da Índia passivamente sem disparar um tiro. Em sua luta pacifica fundamentou a independência da Índia
através do conceito da não cooperação aos seus opressores e iniciou uma severa
greve de fome quando soube que seus conterrâneos e seguidores estavam reagindo
de forma violenta às ações do exercito inglês. Se dedicou sincera e
profundamente à prática da não-violência, da não agressividade, de não causar
dor.
Ahimsa: a não-violência em pensamento, palavra e ação
Ahimsa sugere
eliminar qualquer intenção hostil ou malícia em relação à outra pessoa e em
relação a qualquer forma de vida. Também deve estar presente em nossas
intenções, pensamentos, diálogo, atitudes mentais que mais tarde se
transformarão ou não em ações. Para que as demais disciplinas yogues funcionem ahimsa é o alicerce, podendo-se até afirmar
que todas as outras são dependentes de observarmos ahimsa. Praticar ahimsa
requer uma constante vigilância com nós mesmos e em nossas relações com os
outros, observando nossos pensamentos e intenções.
Durante a prática do Hatha Yoga ahimsa deve estar presente, por exemplo,
quando estamos em uma postura desafiadora, difícil, devemos observar nossos
limites naquele momento para que não sejamos violentos com nós mesmos ou, como
professores, com os alunos. O domínio da postura é gradual e não imediato.
Ao praticar pranayamas devemos seguir
atentamente a instrução e experimentar a sensação que temos ao executá-lo. Não
devemos ultrapassar o limite do conforto respiratório nesta prática, desta
forma observando ahimsa.
“Quando o yogi se torna
qualificado, através da prática da disciplina ética, por abster-se de ações
ilícitas (yama) e da auto-superação (niyama), pode (então) começar a prática de asanas e das outras técnicas”.
Yoga Bhasya Varana, II:29
Cultivando a prática da não-violência para viver a vida de Yoga
Pedro Kupfer, professor, praticante e escritor, publicou em um dos seus artigos (http://www.yoga.pro.br/artigos/835/3030/aprofundando-sena-pratica-integrando-corpo-respiracao-e-mente) que “há muitos anos já vivo
fascinado por uma lista de valores que Krishna ensina para Arjuna naquele
diálogo essencial sobre Yoga que é a Bhagavadgītā. Essa parte da instrução sobre como aplicar o
Yoga na vida através das atitudes ocupa as estrofes
sete a 11 do capítulo XIII desse importante texto. Cultivar valores no
cotidiano é essencial para se ter uma vida tranquila e feliz.
A paz é
o antídoto contra a violência e uma condição essencial para a vida feliz.
Lutamos continuamente para conquistar objetivos mas esquecemos que se não tivermos
paz para desfrutarmos daquilo que realizamos, não haverá felicidade possível. A
violência é um dos mecanismos que nos mantêm afastados de nossa natureza, que é
plenitude e felicidade. Ahimsa consiste em cultivar a não-violência
em palavras, pensamentos e atitudes. Esta prática é uma condição fundamental
para que possamos viver a vida de Yoga. Sem uma prática sólida de não-violência
não há crescimento emocional. Existem duas dimensões na prática da
não-violência: a pessoal e a social. A primeira tem a ver com a maneira em que
cada um se relaciona consigo próprio. A segunda tem a ver com a maneira em que
vivemos a vida em sociedade, com nossa família, nossos amigos, vizinhos ou
colegas de trabalho. Essa segunda dimensão depende diretamente da primeira.
B.K.S.
Iyengar, em seu livro A Luz da Ioga, afirma que “ahimsa é mais que um
mandamento para não matar, pois tem um sentido positivo mais amplo de amor.”
Segundo ele, “a violência nasce do medo, da fraqueza, da ignorância ou da
inquietação. Para restringi-la é essencial que se livre do medo.” Junto com ahimsa
o mestre Iyengar reforça a necessidade de trabalhar abhya – liberação do medo – e akrodha
– liberação da ira.
No
livro A Tradição do Yoga, Georg Feuerstein reuniu informações sobre História,
Literatura, Filosofia e Prática do yoga e no capítulo 10, sobre “A Filosofia e
a Prática do Pâtnajala-Yoga”, diz que “o mais fundamental de todos os preceitos
morais é o da não-violência.” Ele menciona que o médico CaraKa, um dos grandes
luminares da medicina naturopática nascida na Índia, observou que o fazer
violência aos outros reduz o tempo de vida da própria pessoa que comete
violência, ao passo que a prática de ahimsa
o prolonga, pois representa um estado mental positivo e favorável à vida.
Mas, comentando essa afirmação,
Feuerstein diz acreditar que “o
motivo principal que leva o yogue a cultivar essa virtude é o impulso de unificação e de transcendência
do ego.”
Reflita
sobre ahimsa e cultive esse conceito
na sua vida diária.