terça-feira, 3 de junho de 2014

YAMAS - a ética de conduta do Yoga: Ahimsa, a não-violência em pensamento, palavra e ação


Yamas e Nyamas constituem a ética universal do Yoga. Yamas são as indicações de conduta moral recomendadas para o ser humano em seu convívio social. Nesse primeiro artigo o enfoque é AHIMSA, a não violência.

Os Sutras de Patañjáli e os 8 angas : o yoga como caminho para o autoconhecimento
No Yoga Sutra, um dos textos mais importantes sobre Yoga que se tem conhecimento, seu autor, o sábio Patañjáli, sistematizou a essência da filosofia do Yoga, em aproximadamente 150 DC, relacionando 195 aforismos (sutras) que constituem um verdadeiro mapa do psiquismo humano. Os sutras contém instruções para ajudar o homem a perceber  sua essência e desenvolver seu potencial.  Praticamente todas as linhas de yoga seguem esse sistema.

Os sutras são divididos em 4 partes:
1.                  Samadhi pada – teoria do conhecimento – movimentos da consciência – êxtase – a teoria e
                 técnica do yoga
2.                  Sadhana pada – meios de realização – ética – ashtanga yoga – exercícios preliminares
3.                  Vibhuti pada – poderes psíquicos – práticas que orientam a meditação
4.                  Kaivalya pada – isolamento do espírito, estudo e práticas para o caminho da libertação

O sistema de Patañjáli  é também chamado de Ashtanga Yoga, o Yoga de oito partes,  descreve as oito subdivisões da técnica yogi. Cada um dos membros depende do anterior, como uma escada, numa unificação cada vez maior da consciência ou uma purificação progressiva.

O fundamento do Yoga, como de toda espiritualidade autêntica, é uma ética universal.

1º ANGA – YAMAS  - as restrições – a ética de conduta moral social
1.                  AHIMSA – não-violência
2.                  SATYA – veracidade
3.                  ASTEYA – não-roubar
4.                  BRAHMACHARYA – castidade
5.                  APARIGHARA – não-cobiçar

1º ANGA – 1º YAMA - AHIMSA – NÃO VIOLÊNCIA
Ahimsa pratisthayam tat samnidhau Vaira tyagah

Ahimsa é um princípio ético de não causar nenhum mal a qualquer ser vivente. Está  presente nas religiões Hindus, como no Jainismo, Hinduismo e Budismo.  É considerada uma obrigação a ser cumprida para os praticantes do Hatha Yoga, de acordo com o texto clássico Hatha Yoga Paradipika (1.1.17), um manual sânscrito escrito no século XV por Swami Svatmarana, discípulo de Swami Gorakhnath. Esse princípio é uma orientação contida nesse que é  tido como o mais antigo texto sobre hatha yoga, um dos três clássicos, ao lado do Gheranda Samhita e Shiva Samhita).

Este princípio se tornou mundialmente conhecido com um dos grandes nomes da espiritualidade do século XX,  Mahatma Gandhi, líder político Hindu que expulsou o império britânico da Índia passivamente sem disparar um tiro. Em sua luta pacifica fundamentou a independência da Índia através do conceito da não cooperação aos seus opressores e iniciou uma severa greve de fome quando soube que seus conterrâneos e seguidores estavam reagindo de forma violenta às ações do exercito inglês. Se dedicou sincera e profundamente à prática da não-violência, da não agressividade, de não causar dor.

Ahimsa: a não-violência em pensamento, palavra e ação
Ahimsa sugere eliminar qualquer intenção hostil ou malícia em relação à outra pessoa e em relação a qualquer forma de vida. Também deve estar presente em nossas intenções, pensamentos, diálogo, atitudes mentais que mais tarde se transformarão ou não em ações. Para que as demais disciplinas yogues funcionem ahimsa é o alicerce, podendo-se até afirmar que todas as outras são dependentes de observarmos ahimsa.  Praticar ahimsa requer uma constante vigilância com nós mesmos e em nossas relações com os outros, observando nossos pensamentos e intenções.
Durante a prática do Hatha Yoga ahimsa deve estar presente, por exemplo, quando estamos em uma postura desafiadora, difícil, devemos observar nossos limites naquele momento para que não sejamos violentos com nós mesmos ou, como professores, com os alunos. O domínio da postura é gradual e não imediato.
Ao praticar pranayamas devemos seguir atentamente a instrução e experimentar a sensação que temos ao executá-lo. Não devemos ultrapassar o limite do conforto respiratório nesta prática, desta forma observando ahimsa.

“Quando o yogi se torna qualificado, através da prática da disciplina ética, por abster-se de ações ilícitas (yama) e da auto-superação (niyama), pode (então) começar a prática de asanas e das outras técnicas”.
Yoga Bhasya Varana
, II:29


Cultivando a prática da não-violência para viver a vida de Yoga
Pedro Kupfer, professor, praticante e escritor,  publicou em um dos seus artigos (http://www.yoga.pro.br/artigos/835/3030/aprofundando-sena-pratica-integrando-corpo-respiracao-e-mente)  que “há muitos anos já vivo fascinado por uma lista de valores que Krishna ensina para Arjuna naquele diálogo essencial sobre Yoga que é a Bhagavadgītā.  Essa parte da instrução sobre como aplicar o Yoga na vida através das atitudes ocupa as estrofes sete a 11 do capítulo XIII desse importante texto. Cultivar valores no cotidiano é essencial para se ter uma vida tranquila e feliz.
A paz é o antídoto contra a violência e uma condição essencial para a vida feliz. Lutamos continuamente para conquistar objetivos mas esquecemos que se não tivermos paz para desfrutarmos daquilo que realizamos, não haverá felicidade possível. A violência é um dos mecanismos que nos mantêm afastados de nossa natureza, que é plenitude e felicidade. Ahimsa consiste em cultivar a não-violência em palavras, pensamentos e atitudes. Esta prática é uma condição fundamental para que possamos viver a vida de Yoga. Sem uma prática sólida de não-violência não há crescimento emocional. Existem duas dimensões na prática da não-violência: a pessoal e a social. A primeira tem a ver com a maneira em que cada um se relaciona consigo próprio. A segunda tem a ver com a maneira em que vivemos a vida em sociedade, com nossa família, nossos amigos, vizinhos ou colegas de trabalho. Essa segunda dimensão depende diretamente da primeira.

B.K.S. Iyengar, em seu livro A Luz da Ioga, afirma que “ahimsa é mais que um mandamento para não matar, pois tem um sentido positivo mais amplo de amor.” Segundo ele, “a violência nasce do medo, da fraqueza, da ignorância ou da inquietação. Para restringi-la é essencial que se livre do medo.”  Junto com ahimsa o mestre Iyengar reforça a necessidade de trabalhar abhya – liberação do medo – e akrodha – liberação da ira.

No livro A Tradição do Yoga, Georg Feuerstein reuniu informações sobre História, Literatura, Filosofia e Prática do yoga e no capítulo 10, sobre “A Filosofia e a Prática do Pâtnajala-Yoga”, diz que “o mais fundamental de todos os preceitos morais é o da não-violência.” Ele menciona que o médico CaraKa, um dos grandes luminares da medicina naturopática nascida na Índia, observou que o fazer violência aos outros reduz o tempo de vida da própria pessoa que comete violência, ao passo que a prática de ahimsa o prolonga, pois representa um estado mental positivo e favorável à vida. Mas, comentando essa afirmação,  Feuerstein diz  acreditar que “o motivo principal que leva o yogue a cultivar essa virtude  é o impulso de unificação e de transcendência do ego.”

Reflita sobre ahimsa e cultive esse conceito na sua vida diária. 

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